sábado, 26 de julho de 2008

Uma gota d’água no oceano


Certamente você, ao tentar incentivar alguém a intervir nos fenômenos sociais que o cercam, já ouviu a famosa frase “Sou apenas uma gota d’água no oceano, não posso fazer nada”! Não sei quem inventou a frase da gota d’água no oceano, mas quero confessar que estou profundamente irado com esse passivo contagioso! Recentemente a ouvi de um vereador, acredite!
Retirem todas as gotas d’água do oceano e vejam o que sobra: um abismo com uma média de profundidade de quatro mil metros e alguns destroços de navios naufragados. Porventura, não é uma realidade semelhante a das sociedades onde as pessoas escondem-se atrás da frase da gota d’água?
Somos viciados em dar maior importância ao oceano como se esse fosse independente das gotas. Pois eu lhes digo, o oceano é menor que uma ‘simples’ gota d’água! Pois depende da união delas para existir. É uma gota d’água que faz um copo transbordar, ou a falta dela que faz com que o copo não se encha.
Quantos copos [e pratos] vazios existem por aí por conta da omissão dessas gotas d’água ‘impotentes’ ao seu ver!
Deixemos a água e aqueçamos um pouco o nosso coração. Se alguém me perguntasse ‘o que é preciso para se fazer um incêndio’, eu, possivelmente, pensaria numa grande floresta em chamas. Esqueceria por certo da partícula iniciadora: a fagulha! Sem ela, o incêndio não teria êxito, não haveria fogo.
O sábio apóstolo Tiago compara a fagulha à língua humana. Como eu gostaria que essas fagulhas provocassem um grande incêndio. Um incêndio capaz de queimar os garranchos da corrupção que nos circunda. Um incêndio provocado por essas fagulhas jovens que andam por aí apagando-se pelos ventos da repressão anunciada e ratificada. Não sabem, porém, que o vento que as apaga também pode fazê-las incendiar! Entretanto depende da postura de cada fagulha o ‘acender’ ou o ‘apagar-se’.
Onde estão os nossos jovens? Esperanças de transformação; esperanças de justiça social? Sob que cobertor se acomodam? Permita-nos Deus que não seja sob o cobertor do conformismo, da obediência ao discurso imperialista da mídia.
Quando os jovens irão começar a apalpar o espaço que ocupam? Quando irão chamá-lo de seu? Quando irão expulsar os intrusos do espaço e do direito alheio?
Se Jesus tivesse achado que uma faiscazinha nascida lá nos cafundós da Galiléia não pudesse provocar um grande incêndio, nossos corações seriam, hoje, mais congelados que a Antártida. Se Che Guevara tivesse acreditado que uma gota d’água nada pode fazer, Cuba seria hoje mais um Brazil-quintal-dos-Estados Unidos.


Adailton Morais de Oliveira,
Varzea Nova - BA

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