Rede de dormir
Escrito por Administrator
Sex, 26 de Março de 2010 16:28
Maria do Carmo Andrade
Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco
pesquisaescolar@fundaj.gov.br
A rede de dormir é um tipo de leito constituído de um retângulo de tecido ou malha e suspenso pelas duas extremidades, terminadas em punhos ou argolas, que são presas a armadores ou ganchos, pregados em geral nos portais ou sob árvores frondosas e em que as pessoas se deitam para dormir ou descansar.
O uso da rede para dormir é bastante antigo, é um costume herdado dos indígenas brasileiros. Eles chamavam a rede de ini.Foi em 27 de abril de 1500 que Pero Vaz de Caminha, navegante português, escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, que sem procurar saber o nome já usado pelos indígenas, chamou pela primeira vez, este tipo de leito, de rede de dormir,pela semelhança com a rede de pescar.
As redes primitivas feitas pelas mulheres indígenas eram resistentes, de fiação simples e malhas grandes, por este motivo faziam lembrar a rede de pescar.
Meio século depois do descobrimento a rede já era usada por colono agricultor e pela maior parte dos jesuítas. No Brasil Colonial a rede foi muito usada também como meio de transporte para longas viagens. Eram colocadas nos ombros dos escravos que a sustentavam, por meio de uma vara. Este tipo de rede era chamada de serpentina.
Nas áreas mais pobres da região Nordeste, era costume o morto ser transportado em redes, então chamadas de rede de defunto.
A técnica de tecer a rede, foi aperfeiçoada pelas mulheres portuguesas. A rede foi então cada vez mais usada nas vilas, povoados e engenhos de açúcar, principalmente pela facilidade de transporte. Bastava enrolá-las e colocá-la às costas, visto que as camas de madeiras eram mais pesadas e até então não eram fabricadas no Brasil.
A vinda dos teares (aparelhos para tecer) possibilitou a confecção de tecidos mais compactos, de redes com franjas, varandas, tornando-as mais confortáveis e ornamentais.
A rede foi por mais de quatro séculos um elemento presente e indispensável na vida dos brasileiros. Usava-se a rede desde o nascimento até a morte. Gilberto Freyre em seu livro Casa Grande & Senzala diz que muitos brasileiros, quando pequenos, adormeceram ouvindo o ranger tristonho dos punhos da rede.
Hoje apenas em algumas regiões, principalmente do Norte e Nordeste, a rede é usada para dormir.
Nos grandes centros urbanos a rede é mais um objeto de decoração de residências e serve como ponto de referência aos costumes regionais. São armadas em terraços, alpendres e varandas de casas e apartamentos, casas de praia e de campo, geralmente para descansar ou sesta, mas quase nunca para dormir à noite.
A produção brasileira de redes de dormir está estimada em um milhão de unidades. Os maiores produtores são os Estados do Ceará, Pernambuco, Alagoas e Piauí.
O Brasil exporta as redes de dormir para vários países.
Há também um grande número de fabricas clandestinas, constituídas por pequenos grupos de artesanato. Todo estado nordestino tem dezenas destes núcleos fiéis ao trabalho antigo, feito em casa.
É na indústria particular que se tecem as redes de encomenda de feitura bem cuidada e lenta, bordadas em relevo, franjadas de seda. São obras primas de paciência e acabamento primoroso. O artesanato é o produtor e mantenedor destas redes, chamadas redes de presente.
Recife, 25 de março de 2004.
(Atualizado em 14 de setembro de 2009).
FONTES CONSULTADAS:
CASCUDO, Luís da Câmara. Rede de dormir: uma pesquisa etnográfica. 2. ed. Rio de Janeiro: FUNARTE/INF:Achimé; Natal: UFRN, 1983. 244p.
REDE de dormir. In: ENCICLOPÉDIA Mirador Internacional. São Paulo: Rio de Janeiro: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações, 1995. v.17, p.9654-9655.
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